Maranhão na vanguarda da agricultura sustentável

Porto do Itaqui

Embarque de soja no Porto do Itaqui: 7,7 milhões de toneladas movimentadas de janeiro a novembro deste ano. Foto: Divulgação

Enquanto em âmbito nacional o debate sobre queimadas na Amazônia e riscos à preservação ambiental movimenta governantes e especialistas, o estado do Maranhão afirma-se cada vez mais na vanguarda da agricultura sustentável. Em 2018 foram produzidas 4,5 milhões de toneladas de soja sustentável em todo o planeta, das quais 85% são de origem brasileira. Apesar desse volume expressivo, do total de soja cultivada no Brasil (118 milhões de tons) somente 3% (3,9 milhões de tons) seguiu princípios socioambientais reconhecidos por certificadores internacionais.

Já no Maranhão, das 2,9 milhões de tons de soja produzidas em 2018, 30% (875 mil tons) foram certificadas. Cultivadas em 37 fazendas situadas principalmente na região sul do estado, essas lavouras ocupam uma área de 234 mil hectares, onde desenvolvimento e sustentabilidade são temas complementares e não antagônicos. Esses dados colocam o estado na liderança em percentuais de área de cultivo e produção certificadas.

De janeiro a novembro deste ano foram movimentadas pelo Porto do Itaqui 7,7 milhões de toneladas de soja, volume que já é maior do que o registrado no ano passado, quando houve uma supersafra de grãos. “Hoje o porto público do Maranhão está preparado para exportar toda essa produção e a demanda crescente dos próximos anos. A segunda fase do Tegram, investimentos públicos e privados em infraestrutura portuária e o sistema de gestão implantado no Itaqui podem garantir as condições necessárias para movimentar o dobro do volume de grãos que temos hoje”, afirma o presidente do Porto do Itaqui, Ted Lago.

A certificação é concedida pela RTRS (Associação da Soja Responsável), organização internacional que promove a produção, processamento e comercialização responsável de soja. Por trás desse selo está um padrão aplicável mundialmente que garante uma produção de soja ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável.

Até chegar a esses resultados, muito trabalho foi feito. Esse cenário começou a ser desenhado com a criação da FAPCEN – Fundação de Pesquisa do Corredor Centro-Norte, há cerca de 25 anos, na cidade de Balsas (MA). O objetivo era dar suporte à cultura da soja e ao Corredor de Exportação Norte, formado pelo volume de soja produzido no Maranhão, Tocantins e Piauí, escoado pelo Porto do Itaqui. Atualmente a fundação possui campos de experimentação e pesquisa no Maranhão, Piauí e Tocantins, e em outros 13 estados brasileiros, a maioria deles com foco na produção de sementes de soja.

Reconhecimento

O esforço que vem sendo feito pelo Governo do Maranhão, no sentido de tornar a cadeia produtiva da soja cada vez mais sustentável e de preparar o Porto do Itaqui por meio da gestão eficiente da EMAP – Empresa Maranhense de Administração Portuária, vem tendo reconhecimento internacional. Neste ano o presidente Ted Lago representou o governador Flávio Dino na RT14 – Conferência anual da RTRS, realizada em Utrecht, Holanda, no primeiro semestre.

A RT14 é o maior fórum internacional para discussão sobre a soja responsável e a participação do Maranhão, destaca Ted Lago, consolida esse trabalho que envolve produtores, governos e a gestão do Itaqui, por onde é escoada a soja produzida no Maranhão e também em outros estados, como Tocantins, Mato Grosso, Piauí e Pará.

“Tivemos a oportunidade de apresentar o que vem sendo feito no Maranhão e conhecer projetos desenvolvidos em outras partes do mundo com o objetivo de fortalecer e ampliar o volume de produção da soja sustentável em nossa área de influência, garantindo segurança alimentar para o mercado que precisa dessa produção sem perder de vista a sustentabilidade”, afirma Ted Lago. O próximo passo é certificar toda a cadeia de custódia, das fazendas ao porto.

Raio X da soja responsável no Brasil

A RTRS divulgou relatório sobre a produção de soja responsável no país, que hoje é responsável por 592 mil hectares de florestas nativas preservadas nas fazendas. Para cada hectare de área produtiva, há 0,59 hectares de florestas naturais preservadas, o que representa cerca de 616 milhões de árvores preservadas nas florestas naturais e mais de 64 milhões de toneladas de carbono armazenadas.

Cada tonelada de soja certificada pela RTRS equivale a 157 árvores preservadas ou 16 toneladas de carbono armazenadas. No Cerrado, as fazendas certificadas pela RTRS possuem 134.601 hectares de área protegida acima dos requisitos legais, o equivalente a mais de seis vezes a área de Amsterdã.

As 226 fazendas certificadas pela RTRS no Brasil empregam cerca de 10 mil funcionários diretos e mais de 25 mil indiretos; possuem vários programas sociais, doações financeiras, treinamento, aluguel de terreno a baixo preço, entrada em municípios de baixo desenvolvimento, parcerias com escolas e outros. Precisam disponibilizar 60 horas de treinamento por funcionário anualmente, ou seja, mais 600 mil horas de capacitação. A produtividade nessas fazendas é 11,5% maior que a média nacional, o que significa pelo menos 120 mil hectares de floresta nativa não convertidas para produção agrícola.

Porto do Itaqui

Embarque de soja no Porto do Itaqui: 7,7 milhões de toneladas movimentadas de janeiro a novembro deste ano. Foto: Divulgação

Para obter e manter a certificação essas fazendas precisam ter, entre outros requisitos, gerenciamento de resíduos, práticas de gestão para reduzir o uso de agroquímicos, rotação de culturas (soja – milho – plantas de cobertura do solo), monitoramento em tempo real (plantio, colheita) para controle de cada hora de uso de máquinas e cada litro de agroquímico, por exemplo. Todas as propriedades são auditadas anualmente.

“O auditor internacional visita todas as fazendas, entrevista todos os funcionários e as comunidades para saber o impacto dessa propriedade, principalmente a questão de agroquímicos e desmate, que só pode ter ocorrido até junho de 2016, senão não certifica”, explica a superintendente da FAPCEN, Gisela Introvini.

Os resultados colocam o Maranhão em um novo patamar, que é o de oferecer ao mundo uma imagem internacional da soja certificada, com base em princípios e critérios.